Quanta informação é necessária para ganhar sua atenção?
Sempre que escrevemos um ponto chave é saber qual nossa audiência. Quem já submeteu o mesmo trabalho para revistas ou congressos com diferentes focos sabe bem disso. Resumos do mesmo trabalho podem parecer muito diferentes dependendo de pra quem você gostaria de contar sua história. Preferências pessoais também contam. De maneira geral, existem quatro pilares para a apresentação de um trabalho. Você precisa convencer sua audiência de que (1) o seu trabalho é algo que precisava ser feito, (2) os métodos que você usou eram apropriados e (3) os seus resultados fornecem evidências robustas para que você chegue a suas conclusões que chegou e (4) estas façam sentido a luz das teorias vigentes. Dependendo do background de cada um, uma desses quatro elementos pode ser mais importante ou requerer mais detalhamento. Quando palavras são limitadas (e eu não consigo imaginar uma circunstância em que não sejam) podemos pensar em cada uma como um investimento. Quanta atenção (positiva) eu ganho quando adiciono e quanta atenção eu perco quando retiro uma palavra ou sentença? Vale a reflexão!
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Uma distração recorrente é não ter tudo o que precisamos quando precisamos. Não ter lido suficiente é obstáculo para escrever um pedaço de texto. Não ter os dados ou o software que precisamos é obstáculo para análise. Não ter fones de ouvido, água, café ou sei-lá-o-que é obstáculo para concentração.
Ao nos planejar para encarar uma tarefa, vale pensar será que tenho tudo que preciso? Se a resposta for não, se pergunte o que você precisa fazer de antemão para ter o que precisa antes do momento alocado apra a tarefa chegar. E se não der pra ter tudo? Vale voltar uma casa e se perguntar, será que eu realmente preciso disso ou é mais um jeito de procrastinar? Vale a reflexão em vários momentos! Tem sempre aquela parte do trabalho que a gente não gosta, não domina muito ou tem mais medo de falar besteira. Em geral, essas são as seções mais desafiadoras para escrever. Procrastinamos* antes, durante e quase no final delas.
Se você sabe que uma seção desafiadora te aguarda, não venha despreparado. Pense no por que ela é desafiadora. É um tema difícil ou que você não domina muito? É uma parte que vocè não gosta do que fez ou acha que está fraca? É uma parte que você não gostaria de fazer e um revisor ou co-autor faz questão? Enfim, você entendeu o espírito. Identifique o desafio e pense de antemão em pelo menos uma estratégia que vai te ajudar a diminuir a procrastinação nesta seção. É ter um modelo, ler um artigo, escrever um contra-argumento? Escolha suas armas e enfrente a seção desafiadora de peito aberto. * Esses dia li um artigo bem interessante sobre por que procrastinamos. Se quiser dar uma olhadinha, clique aqui! Reescrever muitas vezes toma muito mais tempo do que pensamos. Reescrevemos pra deixar nossa narrativa mais clara, diminuir o tamanho do texto ou até mesmo construir uma nova narrativa. Os desafios para cada tipo de reescrita são diferentes e as estratégias para lidar com eles também devem ser.
Desenhe sua narrativa. Tente começar pensando no que você quer alcançar ao final do reescrever ou então reescrever vai ser sem fim. Para tornar a narrativa mais clara no nivel da seção, trabalhe sobre o outline; no nivel da sentença sobre a estrutura gramatical (sujeito, verbo + predicado) mantendo a ordem direta. Para diminuir o tamanho do texto, você pode marcar as sentenças com cores por nivel de importancia (essencial é verde, importante é amarelo e acessória é vermelha) e se livrar de (ou resumir) todas as sentenças (até mesmo parágrafos) que não são essenciais para o seu texto. Se for muito dolorido jogar fora aquela frase perfeita que você escreveu sobre aquele paper incrível que não tem nada a ver com o seu trabalho, mas você gosta mesmo assim, copie ela pro final do documento ou para um documento separao e use em outra oportunidade. Para reconstruir um nova narrativa, é fundamental descontruir a antiga. Muito difícil fazer isso se as frases estão todas lá nos contando a história da narrativa velha. Nesse caso, uma estratégia é pegar o texto antigo separar todas as sentenças como itens (bullet points) e abrir um documento novinho em folha para colar as sentenças seguindo a nova narrativa. Escreva o outline da sua nova narrativa nesse documento novo e "recheie" com as sentenças do text antigo. Alguma dessas estratégias funcionou pra você? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo! Qualquer assunto pode ser desenvolvido indefinidamente e nos mínimos detalhes. Antes de sentar para escrever é importante conhecer o seu objetivo (a que propósito o que você está escrevendo se destina) e público alvo (quem vai ler o que você escreve). Por exemplo, quando você está escrevendo a introdução de um estudo, você deve escrever o necessário para que quem está lendo entenda o seu estudo. Nem mais, nem menos. Pense também no espaço que cada seção deve ter. Se uma introdução tem 5 parágrafos e no parágrafo 3 ainda não sá pra ter idéia sobre o que e seu estudo, talvez neste ponto você já tenha perdido a sua audiência. Uma estratégia bem legal pra escrever um texto enxuto e coerente, é escrever de trás pra frente. Comece listando suas conclusões (ou resultados esperados, no caso de projetos), descreva somente os resultados que são evidência para as suas conclusões (todas as outras figuras legais, você coloca no material suplementar), descreva somente os métodos que você usou para gerar suas evidências (resultados) e por fim escreva na introdução tudo que a sua audiência precisa saber de antemão pra entender sua conclusão e o processo que você levou pra chegar lá. Eu uso esse sistema bastante, com algumas modificações e idas e vindas, mas em geral funciona bem. Se escrever de traz pra frente não te ajudar a preparar o primeiro rascunho do projeto/capitulo/artigo, talvez te ajude na hora de revisar. Depois de multiplas versões, vai-e-volta com orientador ou co-autores o trabalho pode perder um pouco da coerência entre as idéias ou coesão. Revisar o trabalho, usando os princípios de escrever de trás pra frente, pode fazer maravilhas neste momento. Se você está meio travado pra terminar aquela correção, por que não tentar? Existem várias formas de lidar com referências enquanto a gente escreve. Algumas pessoas gostam de escrever livremente, sem se atentar as referências e encontrar as referências depois*. Outras pessoas gostam de escrever quando tem domínio completo da literatura. Outras pessoas (como eu) fazem cada hora de um jeito. Independente do seu estilo, parar no meio parágrafo ou da sentença para procurar uma referência nunca é uma boa estratégia. Revise o assunto antes ou encontre as referência depois e seja feliz!
*Ah, se se você for (assim como eu) uma daquelas pessoas que sabe que leu algo a respeito do assunto que você está escrevendo em algum lugar, mas não sabe onde, recomendo adotar algum sistema organizador de referÇencias onde é possível fazer buscas textuais dentro da sua biblioteca de artigos (e.g. Mendeley). Estruturar uma narrativa não é fácil. Idealmente, cada parágrafo deve conter uma idéia e as idéias devem se conectar entre os parágrafos. Uma estratégia para facilitar a coerência e coesão é fazer ou outline (esqueleto) da seção (introdução, por exemplo) antes de começar a escrever. Você pode escrever o assunto do parágrafo em negrito antes do parágrafo e apagar no final. Outra estratégia é estruturar os parágramos de maneira que a primeira sentença "abra" o parágrafo e a última "feche" ligando com o próximo.
O importante é que ao ler somente o assunto ou somente a primeira e última sentença de cada parágrafo as idéias se conectem. Daí, é só escrever o meio do parágrafo as evidências nas quais as idéias que você apresentou na primeira ou última frase do parágrafo se sustentam. Uma ferramenta que pode ajudar no processo é o outline view do word. Pessoas com pensamentos não lineares (e eu sou uma delas) em geral tem dificuldade em estruturar textos lineares. Outraferramenta que pode ajudar bastante são os mapas conceituais. Eu gosto de colocar as minhas idéias dentro destes mapas ou antes de começar escrever ou depois do brainstorming pra organizar-las de maneira linear. Você pode fazer um mapa conceitual na mão. Se preferir fazer no computador, tem várias ferramentas gratuitas e pagas, online e no desktop. Eu gosto do de uma ferramenta web chamada coggle.it. Aqui links pro meu mapa conceitual de escrita científica e de hidráulica de árvores que servem de exemplo e talvez interessem pra vocês. No nosso primeiro encontro discutimos quais pequenas atitudes podem ter impacto positivo sobre a nossa escrita. Abaixo as top-five!
1. Estabelecer uma rotina de escrita faz com que começar a escrever entre no automático. Ter um lugar tranquilo (desligar celular e notificações) e tudo que você precisa para escrever preparado (computador, café, fone de ouvido, playlist, arquivos e anotações, etc) antes de de fato sentar para escrever ajuda a minimizar as distrações. 2. Definir metas a longo prazo nos dão motivação e metas a curto prazo trazem foco. Metas precisam vir acompanhadas de prazos, mesmo que esses sejam negociáveis. Importante pensar em metas quantificáveis ( e.g. 1 seção, 2 paragrafos, 100 palavras) porque só assim conseguimos saber se as nossas metas foram atingidas. 3. Trabalhar com uma quantidade limitada de tempo ajuda a manter o foco. Quando o tempo é limitado, a tarefa deve ser dimensionada de acordo. Tarefas muito pequenas ou muito grandes para um dado tempo podem resultar em procrastinação. 4. Celebrar e compartilhar progressos e desafios ajuda a manter uma atitude positiva em relação à escrita. Quando compartilhamos nossas metas estamos assumindo perante os outros a responsabilide por cumpri-las, mas também encontrando apoio prático e emocional para alcançá-las. 5. Atingir a nossa meta do dia dá uma sensação de missão cumprida e nos motiva para dar os próximos passos em direção a nossa meta grande. Importante manter registro do progresso. A nossa cabeça as vezes nos prega peças e registrando como progredimos podemos olhar para trás e ver de que forma progredimos (ou não!) em direção a nossa meta. Você já tentou incorporar essas atitudes na sua prática de escrita? Compartilhe nos comentários abaixo a sua experiência! Comunicar nossas descobertas deve ser tão estimulante e prazeroso quanto faz-la, certo? Por que então escrever e publicar os artigos científicos é algo tão estressante para a maioria de nós? Escrever mais, melhor e com menos estresse é o que queremos, mas como? Motivada por esses quetionamento convidei alguns colegas de departamento para tentar criar um coletivo de escrita, o writing club. A idéia era de nos encontrarmos semanalmente para escrever juntos, discutir os desafios e compartilhar estratégias para avançar em direção às nossas metas de escrita.
Em janeiro começamos o writing club e nos reunimos semanamente até hoje. Todas as semanas nos reunimos por mais ou menos uma hora e meia, definimos nossa meta do dia, ajustamos o relógio e cada um trabalha uma hora na sua meta. Depois discutimos nossos avanços, estratégias e desafios. Não parece nada demais, não é mesmo? E em termos de tempo, realmente não é. Mas o que a cada encontro tem sido reforçado é que estes pequenos momentos de produção escrita estruturada e troca de experiências podem ser extremamente transformadores sobre a nossa prática diária de escrita. Nos próximos blog posts vou publicar aqui as reflexões dos nossos encontros passados e semanalmente as dos novos encontros. Fiquem ligados! O writing club se reune todas as quintas-feira, 1 pm na na sala IB7 do prédio da pós do IB da Unicamp. Se você quiser saber mais sobre a experiência ou se o writing club é pra você (te adianto que é), escreva para mim. Se você quiser fazer parte do nosso writing club, mande um e-mail para o grupo. |
AutORAThaise Emilio é um bióloga no meio acadêmicos. Ela escreve sobre ciência, vida acadêmica, mulheres e parentalidade na ciência. ARQUIVO
May 2022
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