Faz algum tempo que ando meio obcecada por perguntar para as pessoas como é o processo de escrita pra elas. Como vocês devem imaginar, já ouvi de tudo. Mas foi uma alguém do meu departamento (pesquisadora super respeitada, autora de livro texto e indice h>30 que por algum motivo gosta de mim e decidiu ser minha mentora) que me falou algo que mudou de uma vez por todas a forma a minha forma de refletir sobre a minha própria escrita. Faz um tempo isso agora, então não sei mais dizer o que foi exatamente o que ela disse e o que eu inventei depois, mas o que lembro que ela disse quando perguntei como ela escrevia foi mais ou menos o seguinte:
"Eu abro um documento para cada um dos projetos que eu desenvolvo. Dai, cada coisa que eu faço, artigo que eu leio, conversa que eu tenho, palestra q eu vou, etc, eu registro em um desses documentos. Quando quero concluir o projeto, retomo essas anotações e escrevo o artigo, livro, proposta de financiamento, etc, a partir dai". Até ouvir estas palavras de sabedoria, eu pensava escrita como uma forma de conclusão, síntese de um trabalho. Depois deste dia, no entanto, comecei a ver escrita como um processo contínuo no qual cada passo que damos deve reduzir (também na escrita) a distância que devemos percorrer . Não é lindo? Este sistema me lembra um pouco o conselho da Karen Kelsky* para contruir o CV onde ela sugere que a cada mês devemos adicionar pelo menos uma linha ao nosso currículo . Eu ainda não consigo implementar plenamente o método da minha mentora ou da Karen Kelsky, mas sigo tentando e tentando convencer as pessoas que escrever a sua pesquisa deve seguir paralela com desenvolve-la. Eu gostaria de ter ouvido esses dois conselhos no início da minha carreira acadêmica. Acho que muito da ansiedade relacionada a produção científica poderia ter sido reduzida a quase nada simplesmente juntando essas duas idéias. A primeira é que fica muito mais fácil decidir onde devemos investir o nosso tempo e energia se temos bem claro qual o significado daquela decisão para a nossa carreira em termos de contrução do CV. A segunda é que se fizermos cada hora do nosso dia contar para a nossa produção científica de maneira concreta (e por concreta eu quero dizer escrita) entramos numa espiral positiva de fazer escolhas certas, trabalhar com foco, concluir projetos sem estresse e partir pro próximo. Essa idéia de que a produção científica deve ser algo cotidiano tira muito do peso que escrever tinha sobre mim até recentemente. Acho que por causa disso, que eu tenho tentado convencer todo mundo que eu conheço (mas principalmente quemestá começando a carreira científica agora) de que quanto antes a gente começar escrever melhor. Mas acho que depois desse post, vou mudar minha abordagem. Melhor esquecer completamente essa idéia de que é importante começar a escrever o quanto antes. O importante mesmo é começar escrevendo! Compartilhem nos comentários quala estratégia de vocês para escrever, o que funciona, o que n]ao funciona... Eu vou adorar saber! *quem nunca leu o Blog da Karen Kelsky, The Professor is in, eu super recomendo!
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Nossos projetos são como nossos bebês. Por mais que ansiosos que estejamos para que eles venham ao mundo, niguém quer que eles nasçam antes de estar prontos. Para quem me acompanha aqui ou participa do nosso sabe que eu sou fã incondicional de escrita estruturada e tenho uma lista ou template pra cada momento. Para decidir se um projeto está pronto, não poderia ser diferente. Abaixo as questões que tento responder antes de submeter um projeto novo.
Vocês também tem uma checklist como esse? Que pergunta acham pouco importante ou ficou faltando? Contem pra mim nos comentários! Ahh.. Depois de listar aqui estas questões fiquei pensando que cada uma renderia um post e quando eu escrever todos os posts que estou devendo, vou começar a fazer isso. Qual dos pontos vocês acham mais importantes ou difíceis e por quê? Escrevam pra mim nos comentários tb. Uma distração recorrente é não ter tudo o que precisamos quando precisamos. Não ter lido suficiente é obstáculo para escrever um pedaço de texto. Não ter os dados ou o software que precisamos é obstáculo para análise. Não ter fones de ouvido, água, café ou sei-lá-o-que é obstáculo para concentração.
Ao nos planejar para encarar uma tarefa, vale pensar será que tenho tudo que preciso? Se a resposta for não, se pergunte o que você precisa fazer de antemão para ter o que precisa antes do momento alocado apra a tarefa chegar. E se não der pra ter tudo? Vale voltar uma casa e se perguntar, será que eu realmente preciso disso ou é mais um jeito de procrastinar? Vale a reflexão em vários momentos! No nosso primeiro encontro discutimos quais pequenas atitudes podem ter impacto positivo sobre a nossa escrita. Abaixo as top-five!
1. Estabelecer uma rotina de escrita faz com que começar a escrever entre no automático. Ter um lugar tranquilo (desligar celular e notificações) e tudo que você precisa para escrever preparado (computador, café, fone de ouvido, playlist, arquivos e anotações, etc) antes de de fato sentar para escrever ajuda a minimizar as distrações. 2. Definir metas a longo prazo nos dão motivação e metas a curto prazo trazem foco. Metas precisam vir acompanhadas de prazos, mesmo que esses sejam negociáveis. Importante pensar em metas quantificáveis ( e.g. 1 seção, 2 paragrafos, 100 palavras) porque só assim conseguimos saber se as nossas metas foram atingidas. 3. Trabalhar com uma quantidade limitada de tempo ajuda a manter o foco. Quando o tempo é limitado, a tarefa deve ser dimensionada de acordo. Tarefas muito pequenas ou muito grandes para um dado tempo podem resultar em procrastinação. 4. Celebrar e compartilhar progressos e desafios ajuda a manter uma atitude positiva em relação à escrita. Quando compartilhamos nossas metas estamos assumindo perante os outros a responsabilide por cumpri-las, mas também encontrando apoio prático e emocional para alcançá-las. 5. Atingir a nossa meta do dia dá uma sensação de missão cumprida e nos motiva para dar os próximos passos em direção a nossa meta grande. Importante manter registro do progresso. A nossa cabeça as vezes nos prega peças e registrando como progredimos podemos olhar para trás e ver de que forma progredimos (ou não!) em direção a nossa meta. Você já tentou incorporar essas atitudes na sua prática de escrita? Compartilhe nos comentários abaixo a sua experiência! Comunicar nossas descobertas deve ser tão estimulante e prazeroso quanto faz-la, certo? Por que então escrever e publicar os artigos científicos é algo tão estressante para a maioria de nós? Escrever mais, melhor e com menos estresse é o que queremos, mas como? Motivada por esses quetionamento convidei alguns colegas de departamento para tentar criar um coletivo de escrita, o writing club. A idéia era de nos encontrarmos semanalmente para escrever juntos, discutir os desafios e compartilhar estratégias para avançar em direção às nossas metas de escrita.
Em janeiro começamos o writing club e nos reunimos semanamente até hoje. Todas as semanas nos reunimos por mais ou menos uma hora e meia, definimos nossa meta do dia, ajustamos o relógio e cada um trabalha uma hora na sua meta. Depois discutimos nossos avanços, estratégias e desafios. Não parece nada demais, não é mesmo? E em termos de tempo, realmente não é. Mas o que a cada encontro tem sido reforçado é que estes pequenos momentos de produção escrita estruturada e troca de experiências podem ser extremamente transformadores sobre a nossa prática diária de escrita. Nos próximos blog posts vou publicar aqui as reflexões dos nossos encontros passados e semanalmente as dos novos encontros. Fiquem ligados! O writing club se reune todas as quintas-feira, 1 pm na na sala IB7 do prédio da pós do IB da Unicamp. Se você quiser saber mais sobre a experiência ou se o writing club é pra você (te adianto que é), escreva para mim. Se você quiser fazer parte do nosso writing club, mande um e-mail para o grupo. |
AutORAThaise Emilio é um bióloga no meio acadêmicos. Ela escreve sobre ciência, vida acadêmica, mulheres e parentalidade na ciência. ARQUIVO
May 2022
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